Na verdade a reportagem que saiu hoje
na Folha.com não é surpresa alguma. Mesmo com tantas pressões, manifestações,
apoios nacionais e internacionais, Marco Feliciano continuará por dois anos a
frente da CDHM.
Não é um "jogar toalha", é
apenas se convencer que não temos atributos legais para tira-lo do cargo de Rei
do Brasil. Segundo Henrique Eduardo Alves, Presidente da Câmara dos
Deputados, "Regimentalmente, como presidente, estou no meu limite,
mais do que isso não posso fazer", afirmou. "Não posso ser ditador,
jamais seria. Não posso querer impor minha vontade à Casa, jamais faria. Tenho
que obedecer ao regimento."
Talvez uma grande ação dos
parlamentares, vulgarmente chamados de "representantes do povo", pudesse
surtir algum efeito, mas veja o quadro. PSD e PSDB preferiram se manter no
escuro, calados e inertes. Ao PT sobrou a tentativa de se recuperar da lambança
que o mesmo partido criou. PPS, PSOL, PDT e PC do B se mantiveram contra o
deputado, mas a força das legendas não surtiu afeito, ainda, pois temos que
lembrar que há processos que estão em andamento, tanto de um grupo de siglas,
quanto do PPS.
PTB, PR, PRB, PMDB saíram a favor da
permanência do Deputado Feliciano na presidência da comissão. Nada é
bom, e o quadro é um dos piores do cenário político nessa história sombria pelo
poder teocrático.
Veja também:
A verdade nua e crua é a
Constituição Federal, 1988, não faz nenhum sentido nos dias de hoje. No final
dos anos 80 nossa Constituição era conhecida como uma das mais avançadas do
mundo e a mais avançada da América Latina, e mais de 20 anos depois se tornou apenas
um livro de proteção a políticos estelionatários e um guia prático de como
manter o povo adestrado.
Segundo
o mesmo guia, segue alguns destaques:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade...
Coisa que no Brasil acontece de forma maquiada e injusta,
haja ver que nós LGBT's somos privados de direitos básicos da sociedade civil,
inclusive a de ir e vir, pois na federação se quer podemos expor nossos
sentimentos ante nossos parceiros e amigos.
Art.
19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas,
subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei,
a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
O Estado Laico, divisão legal do Estado e da religião está
assegurada no guia com destaque no artigo 19, mas não é levado a sério pelo
próprio Estado que a separou.
A atual conjuntura política brasileira na defesa pelos direitos
humanos mostra o quão frágil é a sociedade brasileira, e tão forte são aqueles
que conseguem o poder, pois quem consegue chegar ao poder dele não sai mais,
protegido e ungido pela lei e por Deus.
Marco
Feliciano é o erro do Estado, um vacilo do povo e a glória do fundamentalismo.
Alguns parlamentares sugeriram deixar o pastor trabalhar, mas se esquecem de ou
preferem fechar os olhos aos fatos mais nojentos da história da defesa dos
direitos humanos depois que o país se redemocratizou, ou como prefiro dizer,
brincou de se enganar.
Marco Feliciano tem vídeos publicados em que usa de suas
atribuições de pastor para sugerir que a morte de J. Lennon e do grupo Mamonas
Assassinas foi castigo divino. Em outro vídeo o pastor prega o sepultamento de
Pais de Santos, líderes de religiões que olha que ironia, são minoria no pais,
e o pior, discriminadas e empurradas aos guetos.
Em seu Twitter oficial, o pastor-deputado publicou ofensas a
africanos e negros com base em sua religião. É bom sempre frisar a história
negra do país de Marco Feliciano. O Brasil é um pais que se miscigenou com
a raça negra, não tendo família em pleno sec. XXI que não tenha em sua árvore
genealógica uma raiz negra. É sabido de todos, a história de escravidão e a
busca pela igualdade entre raças no pais sendo os negros os protagonistas dessa
história.
Enfim, termino esse artigo com dor no coração. A voz atada na
garganta e os braços amputados pela lei. Nossos políticos vivem em um estado de
relaxamento em que Brasília sendo tão longe do povo, não podem ser ameaçados
pela massa. Parlamentares vivem gozando da lei que os protege, defende e
legaliza seus roubos e desatinos.
Ao povo sobra a polícia legislativa, a ditadura moderna que
possibilita o controle da massa com base na Constituição e nos regimentos
criados e "melhorados" cada vez mais pelos próprios parlamentares que
usam de toda má vontade para se mantiver no poder.
Por Erik