quarta-feira, 2 de novembro de 2011

VIOLÊNCIA DE QUEM, CARA PÁLIDA? Por: Dário Neto

VIOLÊNCIA DE QUEM, CARA PÁLIDA?
Por: Dário Neto
Presidente do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de São Paulo
“Do rio que tudo arrasta, se diz violento,
Mas não chamam de violentas as margens que o comprimem”
Bertold Brecht
Nenhuma violência é justificável. Essa é a premissa básica para toda militância que trabalha na defesa dos Direitos Humanos. Partindo dessa premissa, é preciso problematizar as diferentes formas de violência que marcaram a plenária final da II Conferência LGBT do Estado de São Paulo, no final de semana passado. Para alguém desinformado e que desconhece as pessoas envolvidas no episódio citado, tenderia a repudiar a agressão física praticada pela militante Agatha Lima contra Julian Rodrigues. Mas quem conhece e já foi vítima das violências verbais praticada por esse petista, sabe que a avaliação do episódio não é tão simples assim. Julian Rodrigues é conhecido nacionalmente por seus comportamentos desrespeitosos e desqualificantes contra qualquer pessoa que não compactua com suas p osições. Se no microfone, ele tenta mostrar-se adepto da boa argumentação, fora dele desqualifica por meio de adjetivos seus opositores. Foi desse modo que o mesmo provocou Agatha Lima pelo fato de a mesma não ter sido eleita como delegada para a II Conferência Nacional LGBT.
Mas não se trata apenas de provocar seus opositores, a questão é muito mais perversa. O episódio que resultou a agressão foi antecedido pela discussão e votação a respeito da forma de eleição do Conselho Estadual LGBT. Julian e seus parceiros defendiam que o mesmo fosse composto por indicação de entidades. O debate se deu e foi seguido pela votação que aprovou a eleição direta, o que fez com que ele quisesse dar o troco à derrota política. Para tanto, pediu que se fizesse a divulgação do resultado da eleição de delegados, informando os votos que cada chapa recebeu. Assim que a mesa da Plenária Final informou os resultados, Julian Rodrigues resolveu provocar as Travestis e Transexuais – mais especificamente Agatha Lima – pelo fato de esta não ter sido eleita como delegada. Essas provocações deram-se por meio de insultos e agressões verbais contra a militante.
Reparem bem: a frustração pela derrota na definição de como o Conselho deveria ser composto, levou-o a essa atitude belicosa. Contudo, o mesmo poderia ter provocado opositores que estiveram diretamente ligados a essa derrota. Ele poderia ter provocado a mim, Beto de Jesus, Paulo Mariante ou Marcia Cabral. Mas não foi o que fez. Escolheu justamente Agatha Lima para descarregar sua frustração e raiva da derrota. A violência primeira e que poderia ter sido evitada foi a transfobia recorrentemente praticada por esse petista. Julian escolheu provocar Agatha Lima por achar que essa não teria condições de revidar suas provocações. Certamente, sua avaliação resulta de uma transfobia que o mesmo tem recorrentemente praticado em nível nacional. Há que se lembrar que, por conta desse comportamento tr ansfóbico, o mesmo recebeu uma moção de repúdio do movimento de Travestis na I Conferência Nacional LGBT em 2008.
Diversas pessoas têm dito que a violência física não se justifica. Como afirmei no início do texto, não pretendo e não quero justificar nenhuma forma de violência. Quero questionar essa lógica em que hierarquiza as formas de violência, dando peso a agressão física, mas desconsiderando os efeitos perversos da agressão verbal e psicológica. Tão violento quanto um tapa, são as palavras usadas para desqualificar e estigmatizar qualquer pessoa. As palavras ferem e, muitas vezes, pode ter efeitos danosos maiores do que uma agressão física. Se há que repudiar a agressão física praticada pela Agatha, mais ainda devemos repudiar essa prática recorrente feita por Julian Rodrigues em que as palavras são usadas para agredir, desqualificar e insultar qualquer pessoa.

"Deixar o erro sem refutação é estimular a imoralidade intelectual" - Karl Marx

Um comentário:

  1. Tem razão: Apesar de não estar presente, quem me revelou o ocorrido, contou algo no mesmo sentido. Temos o costume de relacionar violência a apenas o que os olhos veem e desprezamos, em geral, outras formas que podem ser bastante vis.

    Com relação ao histórico procedimento do agressor moral, é preciso que comecemos a pensar os porquês, apesar de serem várias as ocasiões onde demonstrou seu caráter egocentrado (o que colocaria em dúvida mesmo as ações aparentemente pró-movimento!), posturas infantis e inescrupulosas, ainda recebe apoio. Afinal, alguém que já semeou e cultivou diversas desavenças dentro do próprio movimento que "jura" defender, só pode estar agindo em um causa que não é a dos outros.

    Se não é jamais pelo outro, será de quem? Dou meia chance para alguém acertar!

    Os medos que os indivíduos das populações LGBTs vivenciam, quer sejam diretamente (no dia-a-dia familiar, profissional, etc) quer sejam potenciais (pois historicamente - e ainda hoje! - nos inteiramos de um tratamento desigual àqueles que são LGBTs) parecem imobilizar qualquer ação que vise colocar um basta nessas posturas infelizes.

    Imagino que alguns não se manifestam pois talvez apostem ainda na máxima de que "ruim com ele, pior sem ele". Oras, sempre acreditei que este tipo de pensamento serve mais para justificar uma acomodação e a presença do "ruim", que qualquer outra coisa. Porque quanto a "ficar sem", disso não acredito. Há muita gente com vontade de por em prática a visão de que só é possível se dar bem, quando todo um grupo se der bem. E isto é algo que o referido agressor não entende, pois prefere se dar bem sozinho.

    Sejam quais forem os outros medos, penso que a gente só pode pensar em "colocar ordem no mundo" quando, antes, conseguir "colocar ordem na própria casa". Fica aqui uma dica e uma esperança.

    ResponderExcluir

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *