VIOLÊNCIA DE QUEM, CARA PÁLIDA?
Por: Dário Neto
Presidente do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual de São Paulo
“Do rio que tudo arrasta, se diz violento,
Mas não chamam de violentas as margens que o comprimem”
Bertold Brecht
Nenhuma violência é justificável. Essa é a premissa básica para toda militância que trabalha na defesa dos Direitos Humanos. Partindo dessa premissa, é preciso problematizar as diferentes formas de violência que marcaram a plenária final da II Conferência LGBT do Estado de São Paulo, no final de semana passado. Para alguém desinformado e que desconhece as pessoas envolvidas no episódio citado, tenderia a repudiar a agressão física praticada pela militante Agatha Lima contra Julian Rodrigues. Mas quem conhece e já foi vítima das violências verbais praticada por esse petista, sabe que a avaliação do episódio não é tão simples assim. Julian Rodrigues é conhecido nacionalmente por seus comportamentos desrespeitosos e desqualificantes contra qualquer pessoa que não compactua com suas p osições. Se no microfone, ele tenta mostrar-se adepto da boa argumentação, fora dele desqualifica por meio de adjetivos seus opositores. Foi desse modo que o mesmo provocou Agatha Lima pelo fato de a mesma não ter sido eleita como delegada para a II Conferência Nacional LGBT.
Mas não se trata apenas de provocar seus opositores, a questão é muito mais perversa. O episódio que resultou a agressão foi antecedido pela discussão e votação a respeito da forma de eleição do Conselho Estadual LGBT. Julian e seus parceiros defendiam que o mesmo fosse composto por indicação de entidades. O debate se deu e foi seguido pela votação que aprovou a eleição direta, o que fez com que ele quisesse dar o troco à derrota política. Para tanto, pediu que se fizesse a divulgação do resultado da eleição de delegados, informando os votos que cada chapa recebeu. Assim que a mesa da Plenária Final informou os resultados, Julian Rodrigues resolveu provocar as Travestis e Transexuais – mais especificamente Agatha Lima – pelo fato de esta não ter sido eleita como delegada. Essas provocações deram-se por meio de insultos e agressões verbais contra a militante.
Reparem bem: a frustração pela derrota na definição de como o Conselho deveria ser composto, levou-o a essa atitude belicosa. Contudo, o mesmo poderia ter provocado opositores que estiveram diretamente ligados a essa derrota. Ele poderia ter provocado a mim, Beto de Jesus, Paulo Mariante ou Marcia Cabral. Mas não foi o que fez. Escolheu justamente Agatha Lima para descarregar sua frustração e raiva da derrota. A violência primeira e que poderia ter sido evitada foi a transfobia recorrentemente praticada por esse petista. Julian escolheu provocar Agatha Lima por achar que essa não teria condições de revidar suas provocações. Certamente, sua avaliação resulta de uma transfobia que o mesmo tem recorrentemente praticado em nível nacional. Há que se lembrar que, por conta desse comportamento tr ansfóbico, o mesmo recebeu uma moção de repúdio do movimento de Travestis na I Conferência Nacional LGBT em 2008.
Diversas pessoas têm dito que a violência física não se justifica. Como afirmei no início do texto, não pretendo e não quero justificar nenhuma forma de violência. Quero questionar essa lógica em que hierarquiza as formas de violência, dando peso a agressão física, mas desconsiderando os efeitos perversos da agressão verbal e psicológica. Tão violento quanto um tapa, são as palavras usadas para desqualificar e estigmatizar qualquer pessoa. As palavras ferem e, muitas vezes, pode ter efeitos danosos maiores do que uma agressão física. Se há que repudiar a agressão física praticada pela Agatha, mais ainda devemos repudiar essa prática recorrente feita por Julian Rodrigues em que as palavras são usadas para agredir, desqualificar e insultar qualquer pessoa.
"Deixar o erro sem refutação é estimular a imoralidade intelectual" - Karl Marx